O que a gente quer dizer quando fala sobrevivente? Talvez um sobrevivente seja o último a chegar em casa, a última monarca que pousa num galho já pesado de fantasmas.


“O outro não é apenas um duplo especular, ao modo de um espelho do Eu. Para começar, o outro tem dois olhos, não apenas um. Então em qual ponto de vista devemos nos colocar? Se os olhos piscam ao mesmo tempo, a imagem permanece ainda que não esteja em presença. Mas, se alternamos o piscar entre um olho e outro, o objeto começa a se movimentar, em função de um efeito de ilusão chamado paralaxe. Ou seja, o fato de nós termos uma visão binocular e supormos no outro um único ponto de vista corresponde a uma diferença estrutural entre o eu e o outro. Isso ocorre também porque há um ponto de ausência na visão, bem no centro do cone ótico, chamado mácula. Além disso, a visão, tomada nesse sentido geométrico, equivale à audição, não à escuta. Para escutar e não só ouvir, assim como olhar e não só ver, é preciso subtrair a representação antecipada que fazemos do outro, da imagem, e que não é uma ilusão ótica, mas uma ilusão cognitiva. Quando alguém começa a aprender a arte do desenho, uma das primeiras lições, e talvez a mais importante, no sentido inaugural, é que você deve se ater ao que objetivamente está vendo, não ao que se “sabe� sobre o formato de uma maçã ou das arestas de um cubo.
Isso significa que, para que os dois olhos colaborem na apreensão de uma única imagem, é preciso pensar a partir do quadro, colocar-se no lugar do outro, mas também supor o que o quadro “ignora� sobre sua própria composição. Por exemplo, o tamanho, a disposição e a distribuição dos volumes impõem involuntariamente ao observador que se coloque no ponto exato em que o quadro forma uma boa imagem. Se nos colocamos a menos de um palmo ou a mais de cem metros da Mona Lisa, sua experiência estética simplesmente será outra. Ocorre que, nesse ponto, ao qual nos ajustamos automaticamente � como ajustamos a distância exata à qual um bebê é capaz de formar seu foco visual, sem que ninguém tenha nos ensinado isso �, emerge outro fenômeno: nos vemos sendo vistos. Nossa percepção é a de que fazemos parte da tela e estamos imersos no espaço do museu. Ou seja, recebemos nossa própria imagem, que nos enxerga ali onde não nos vemos. É assim também com a escuta. Reconhecemos o que o outro não escuta, o que ele mesmo diz, e não adianta simplesmente dizer isso, gritar ou se exasperar, porque ele não escuta. E isso acontece porque, no fundo, “não pode escutar�, pois aquilo foi feito para ficar nessa zona cinzenta do não escutado.
Não obstante, há restos � penumbras, zonas de transição, rastros daquilo que não se escuta perfeitamente �, mas que se denunciam como ruídos, particularmente em distorções, exageros, inibições e excepcionalidades da sua expressividade. O senso comum tenta eliminar tais ruídos entendendo que atrapalham a funcionalidade das relações. A psicanálise dá atenção a essas bobagens e imperfeições comunicativas, pois presume que nelas falta o que não pode ser realmente escutado e que de fato está determinando impasses relacionais.”
― A arte de amar
Isso significa que, para que os dois olhos colaborem na apreensão de uma única imagem, é preciso pensar a partir do quadro, colocar-se no lugar do outro, mas também supor o que o quadro “ignora� sobre sua própria composição. Por exemplo, o tamanho, a disposição e a distribuição dos volumes impõem involuntariamente ao observador que se coloque no ponto exato em que o quadro forma uma boa imagem. Se nos colocamos a menos de um palmo ou a mais de cem metros da Mona Lisa, sua experiência estética simplesmente será outra. Ocorre que, nesse ponto, ao qual nos ajustamos automaticamente � como ajustamos a distância exata à qual um bebê é capaz de formar seu foco visual, sem que ninguém tenha nos ensinado isso �, emerge outro fenômeno: nos vemos sendo vistos. Nossa percepção é a de que fazemos parte da tela e estamos imersos no espaço do museu. Ou seja, recebemos nossa própria imagem, que nos enxerga ali onde não nos vemos. É assim também com a escuta. Reconhecemos o que o outro não escuta, o que ele mesmo diz, e não adianta simplesmente dizer isso, gritar ou se exasperar, porque ele não escuta. E isso acontece porque, no fundo, “não pode escutar�, pois aquilo foi feito para ficar nessa zona cinzenta do não escutado.
Não obstante, há restos � penumbras, zonas de transição, rastros daquilo que não se escuta perfeitamente �, mas que se denunciam como ruídos, particularmente em distorções, exageros, inibições e excepcionalidades da sua expressividade. O senso comum tenta eliminar tais ruídos entendendo que atrapalham a funcionalidade das relações. A psicanálise dá atenção a essas bobagens e imperfeições comunicativas, pois presume que nelas falta o que não pode ser realmente escutado e que de fato está determinando impasses relacionais.”
― A arte de amar
“We accept the love we think we deserve.”
― The Perks of Being a Wallflower
― The Perks of Being a Wallflower

“Perhaps home is not a place but simply an irrevocable condition.”
― Giovanni’s Room
― Giovanni’s Room

“O mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas � mas que elas vão sempre mudando. (...) Natureza da gente não cabe em nenhuma certeza.”
― Grande Sertão: Veredas
― Grande Sertão: Veredas

“Queria saber: Depois que se é feliz, o que acontece? O que vem depois?”
― Near to the Wild Heart
― Near to the Wild Heart

Reading takes you places. Where in the world will your next book take you? If you love world literature, translated works, travel writing, or explorin ...more

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